4.3 Temas Específicos
O “Evangelho kerigmático”. Marcos retrata como nenhum outro o primeiro anuncio (kerigma) que os apóstolos (aquele que ensina), dirigiam aos seus contemporâneos. Ainda para nós hoje, conserva o sabor do primeiro anúncio e é capaz de renovar o impacto de Jesus no nosso cristianismo (conjunto de religiões cristas, baseadas nos ensinamentos, pessoa e vida de Jesus Cristo), que está um pouco “gasto”.
O Reino de Deus já. O que Jesus anuncia é o Reino de Deus já (1.15). Para ver o que significa é preciso ler o evangelho e ver o que Jesus faz: isso é o reino que ele traz presente.
O Temor diante da santidade de Deus que se manifesta em Jesus, nas expulsões de demônios, na autoridade/poder de Jesus, diante do sepulcro vazio depois da ressurreição (16.8).
O “segredo Messiânico”. Em Marcos, os demônios expulsos percebem que Jesus é o Messias, mas Ele proíbe que o publiquem. Do mesmo modo, os discípulos depois da profissão de fé e a Transfiguração (8.30; 9.9). Pois é impossível entender em que sentido Jesus é o Messias e qual o seu reino, antes de ver seu dom da própria vida, na cruz, e sua ressurreição.
O Filho do Homem e Servo Sofredor. Jesus não se chama a si mesmo de Messias, mas de Filho do Homem, o enviado humano de Deus (8.31; 14.62; cf. Dn 7.13); e ele realiza esta sua missão dando sua vida “por muitos” (10,45; 14,24), como o Ser Sofredor de Is 53.
4.4 Teologia
Tal como os outros evangelistas, Marcos apresenta-nos a pessoa de Jesus e o grupo dos discípulos como primeiro modelo da Igreja.
O começo e o epilogo do Evangelho de Marcos, projetam luz plena sobre a figura de Jesus. Ele é o “Evangelho”, enquanto Cristo “Messias” que dá cumprimento às promessas divinas, e Filho de Deus (1.1), amado do Pai que o planifica com o seu Espírito (1.9-11), é o mais forte, a quem o Batista não pode desatar as sandálias, vencedor de satanás no deserto, e da morte na Ressurreição.
4.5 A Estrutura Literária
Uma estrutura fundada apenas sobre elementos geográficos com uma divisão tripartite (Galiléia, Samaria, Jerusalém) é, antes, genérica e não demonstrável em sua essência; já, por outro lado, um vinculo muito rígido entre as partes deixa a impressão de estar forçando textos.
4.6 Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos
O Evangelho segundo Marcos é o mais antigo dos Evangelhos canônicos (ver Mateus, Intr.). Conforme a tradição eclesial, o autor é João Marcos, filho de certa Maria, em cuja casa se reunia a comunidade de Jerusalém. João Marcos, de origem judaica, era primo de Barnabé e foi colaborador de Paulo e Pedro (At 12.12; 13.5; 15.36-39; IPd 5.13). A tradição nos informa que ele escreveu seu Evangelho em Roma por volta do martírio de Pedro (65 dC). Esta data de composição é confirmada pelas alusões à Guerra Judaica e à destruição de Jerusalém (66-73 dC), que se podem reconhecer sobretudo no cap. 13 de Mc.
É a Tradição (o que é passado, vivido, vivenciado) viva da Igreja que nos faz compreender adequadamente a Sagrada Escritura como Palavra de Deus.
Nesses anos, as testemunhas e os discípulos diretos de Jesus, pregadores do Evangelho oral, estavam desaparecendo. Marcos consignou por escrito a pregação deles, criando o gênero literário do Evangelho escrito. Respondeu assim às dúvidas que rodeavam a comunidade e forneceu ao mesmo tempo um “manual” para o novo impulso missionário e a expansão da comunidade. As explicações de usos judaicos (cap. 7) mostram que entre seus leitores havia pessoas que não eram de origem judaica.
A melhor maneira de sustentar a fé da comunidade é esclarecê-la. Para tanto é preciso voltar sempre àquilo que Jesus disse e fez. Repetindo o primeiro anúncio, Marcos “reevangeliza” a comunidade em crise. Mostra que Jesus não é um messias de sucesso fácil (o “Messias esperado”), mas um messias diferente (o “Messias inesperado”). Nem mesmo seus discípulos o compreenderam, até que ele levasse a termo sua obra. Jesus é o Filho do Homem, o Servo do Senhor; o Filho de Deus fiel até a morte por amor e exaltado por Deus na ressurreição, para conduzir novamente o seu rebanho, na “Galiléia” do mundo (cf. Mc 16.7).
4.7 A trilogia inicial
Os primeiros versículos com a primeira sumarização (1.2-15) contem, em síntese, todo o Evangelho e constituem uma manifestação que espera por uma resposta.
O Batista (1,2-8). Marcos fala do Batista para falar de Jesus e por meio dele faz evocar acontecimentos de pessoas do Antigo Testamento. Isaias, Malaquias, (“Eis que envio o meu mensageiro na tua frente para preparar o teu caminho”) (Mc 1,2). Segue-se a evocação do grande Elias cujas características de simplicidade no vestir-se e no comer são empregadas para apresentar o Batista. Este, à luz de Isaias e Elias, desempenha o papel de precursor.
O batismo (1,9-11). Jesus parece um homem comum, que se desloca de sua localidade (Nazaré), da sua região (Galiléia) para cumprir um rito como os demais, a imersão nas águas, tomando João como testemunha da vontade de conversão. Quando Marcos escreve, a Igreja já entendia bem claramente a inocência de Jesus, como também que ele era tratado como pecador, em certo sentido, em nosso lugar: “Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus o fez pecador por causa de nós, a fim de que por meio dele sejamos reabilitados por Deus (2Cor 5,21). O Batismo assinala o inicio do caminho de Jesus ao lado do homem pecador.
A tentação (1,12-13). Marcos é muito breve e não especifica as três tentações relatadas por Mateus e Lucas. Jesus cumpriu sua missão mediante uma luta continua contra “satanás”, chamado “diabo” por Mateus e Lucas. Marcos vê aqui o inicio de uma vida atribulada, mas terminando de modo vitorioso, diferentemente do que acontece com o povo derrotado e medroso.
4.8 O mistério do Messias (1.14-8,30)
Essa parte é claramente delimitada pela intervenção de Pedro: “Tu és o Cristo” (8.27) e compreende três secções.
Duas constantes marcam esta primeira parte: a resposta a pregação de Jesus e a injunção formal do silencio da por Jesus diante do milagre e do reconhecimento de sua identidade. As reações dos interlocutores do mestre são negativas. Predominam o não- conhecimento, a incompreensão em parecer estupidez; os fariseus e herodianos têm por objetivo matar Jesus (3.6); o seus, diferentes dos que estão fora (4.11), têm dificuldades em superar a linguagem obscura das parábolas, são medrosos e têm pouca fé (4.40), os concidadãos de Nazaré se admiram, ficam escandalizados, não crêem (6.2.3.6). O “segredo messiânico” é recomendado quando acontece o milagre (7.36), diante do reconhecimento de Jesus como Santo de Deus (1.24), Filho de Deus (3,11), filho do Deus altíssimo (5,7). Por ultimo, Pedro, que dá uma resposta intelectualmente perfeita, revela-se como alguém que não compreendeu nada; é, na verdade, chamado “satanás” (8.33). A incompreensão e o segredo messiânico apontam nitidamente para a Cruz.
4.9 O Mistério do Filho do Homem (8.31 – 15.39)
Apenas mencionado na primeira parte (2.10,28), é agora amplamente atestado o titulo de Filho do Homem (8.31.38; 9.12.31; 10.33,45; 13.26; 14.21(bis).62) que destaca em sentido clarividente a afirmação do centurião ao pé da Cruz de “Filho de Deus” (15.39). A debilidade da fé e da compreensão manifestada em relação à missão de Jesus continua agora nos confrontos com o seu destino, claramente aceito na profissão de fé do cego de Jericó (10.46-52). Também aqui aparecem três seções que dizem respeito ao tríplice anuncio da paixão (8.31 – 10.52) capaz de moldar a vida dos discípulos, o julgamento a respeito de Jerusalém (11.1-13,27), preparado por controvérsias (cap. 12) e presente no discurso escatológico (cap. 13), a revelação do segredo messiânico na paixão e na morte (14.1-15,39).
5. EVANGELHO DE LUCAS
O Evangelho de Lucas é o terceiro dos quatro Evangelhos canônicos do Novo Testamento, que narra à história da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Possui 24 capítulos. Evangelista cristão de formação grego nascido em Antioquia, na Síria, artífice de cultura helenista e do terceiro dos evangelhos sinóticos, mas, que escreve baseado em nascente judaica. Ele registra uma linguagem cuja beleza sobrevive à tradução, tornando seus textos um cunho de maior expressão literária do Novo Testamento.
Por seu estilo literário acredita-se que pertencia a uma família culta, desempenhava a profissão de médico (Cl 4:14), converteu-se ao cristianismo e tornou-se discípulo e amigo de Paulo de Tarso. Compromissado com a verdade, Lucas era homem bem cortês, e dotado de mente cientifica, entendia que a fé religiosa não podia ser instituída sobre mitos, lendas ou meias verdades. Portanto muito se esforçou para escrever um relato completo, exato e em ordem, dizendo o que pretende, narrando de forma ordenada os acontecimentos para que se possa verificar a solidez dos ensinamentos recebidos (Lc 1:3-4). Objetivando mostrar quem é Jesus de Nazaré, o que Ele fez e ensinou conseqüentemente o que significa segui-lo.
Na verdade, ele escreveu dois livros. O primeiro foi o seu Evangelho, cuja autoria lhe foi atribuída por tradições antigas e reconhecidas e que, quase com absoluta certeza, é o “primeiro livro” mencionado no início de Atos. Desse modo, Atos foi o seu segundo livro. Os dois formam um par óbvio, ambos são dedicados a Teófilo e escritos no mesmo estilo literário grego.
Com o terceiro evangelho, estamos diante de uma literária de um “cronista”. Trata-se, de um evangelho, quer dizer de uma obra nascida da fé de uma comunidade e fundada sobre uma tradição, muito mais do que de uma obra individual: mas a personalidade literária do autor aparece muito mais do que nos outros evangelhos.
Os tradicionalistas apontam para o fato de que o mais antigo manuscrito que reteve sua página de abertura, o Papiro de Bodmer XIV (datado de cerca de 200 D.C.), proclama que aquele é o euangelion kata Loukan, e a tradição subseqüente não foi quebrada. A opinião crítica, expressa por Udo Schnelle, é que "as numerosas concordâncias lingüísticas e teológicas e referências cruzadas entre o Evangelho de Lucas e os Atos indicam que ambas as obras derivam do mesmo autor”.
O evangelista não afirma ter sido testemunha ocular da vida de Jesus, mas assegura ter investigado tudo cuidadosamente e ter escrito uma narrativa ordenada dos fatos (Lucas 1, 1-4). Os autores dos outros três Evangelhos, Mateus, Marcos e João, provavelmente usaram fontes similares. De acordo com a hipótese das duas fontes, que é a solução comumente mais aceita para o problema dos sinóticos, as fontes de Lucas incluíram o Evangelho de Marcos e uma coleção de escritos perdidos, conhecida pelos acadêmicos como Q, a Quelle ou "documento fonte". O consenso geral é que o Evangelho de Lucas foi escrito por um grego para os cristãos gentios, ou seja, que não eram judeus.
Lucas declara no prólogo de seu evangelho (1.1-4) que fizera um estudo intensivo sobre os acontecimentos relatados a fim de ser capaz de escrever um relato digno de confiança. Seu prólogo ensina claramente que ele não somente consultou aqueles que tinham conhecimento pessoal da verdade concernente ao evangelho, mas que ele mesmo teve acesso a um número bastante bom de documentos escritos que continham informação autoritativa dada por testemunhas oculares dignas de confiança (Lc. 1.2).
Lucas também tem muitos relatos de milagres e muitas parábolas. Estas enfatizam o poder e o ensino de Jesus. Lucas tem mais parábolas que qualquer outro evangelho. A maioria trata ou do plano de Deus ou da vida do discípulo. A explicação dos seus milagres e do significado está em 7.18-35 e 11.14-23.
Lucas escreveu sua obra em dois volumes sobre a origem do cristianismo, podemos sugerir pelo menos uma resposta. Ele escreveu como um historiador cristão, que pesquisou e investigou tudo o que havia acontecido. Só Lucas menciona o choro de Jesus por Jerusalém, numa demonstração de sensibilidade humana.
Em sua apresentação de Jesus como homem, Lucas menciona a genealogia do Senhor até Adão. Fica demonstrada a humanidade de Cristo. A genealogia é uma forma de demonstrar que Cristo não apareceu magicamente, mas nasceu de uma descendência, embora de modo sobrenatural. Lucas oferece mais informações sobre o nascimento e a infância de Jesus do que os outros evangelhos.
Lucas destaca a atitude ou menção amável de Cristo em relação: aos pobres (6.20); à mulher pecadora (7.37); mendigos (16.20-21); samaritanos (10.33); leprosos (17.12 – narrativas exclusivas); publicanos e pecadores (17.12); O ladrão na cruz (23.43 – narrativas exclusivas).
5.1 Lucas, o historiador
“Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”. (Lc 1.1-4)
Nessa importante declaração, Lucas esboça cinco estágios sucessivos:
Primeiro vêm os eventos históricos. Lucas os chama de certos “fatos que entre nós se cumpriram” (vs. 1). E se a tradução for correta, isso parece indicar que esses eventos não ocorreram por acaso nem de forma inesperada, mas se realizaram para cumprir a profecia do Antigo Testamento.
Depois, Lucas menciona as testemunhas oculares contemporâneas, pois os fatos “que desde o principio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra” (vs. 2). Aqui, Lucas exclui sua própria pessoa, pois, apesar de ter sido uma testemunha ocular de grande parte daquilo que relatará na segunda parte de Atos, ele não pertencia ao grupo de pessoas que eram testemunhas oculares “desde o princípio”. Eles eram os apóstolos, testemunhas oculares do Jesus histórico que transmitiram (o significado de “tradição”) aos outros os que tinham visto e ouvido.
O terceiro estágio é a investigação pessoal de Lucas. Apesar de pertencer à segunda geração, que recebeu a “tradição” sobre Jesus das testemunhas oculares, os apóstolos, ele não aceitou sem questioná-la. Pelo contrário, fez uma “acurada investigação de tudo desde a origem” (vs 3)
Em quarto lugar, depois dos acontecimentos, da tradição das testemunhas oculares e da investigação, vem à escrita. “Muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos” (vs. 1), diz ele, e agora “igualmente a mim me pareceu bem escrever uma exposição em ordem” (vs. 3). Entre os “muitos” autores, sem dúvida alguma, incluíam-se Marcos.
Em quinto lugar, o escrito destinava-se a leitores, entre eles, Teófilo, a quem Lucas se dirige: “para que tenhas plena certeza das verdades em que fostes instruídos” (vs. 4). Assim, os acontecimentos que haviam se cumprido, tinham sido testemunhados, transmitidos, investigados e escritos, deveriam ser (e ainda são) a base da fé e da certeza cristã.
5.2 Ordem da narração
O Evangelho de Lucas, assim como os outros, não segue uma ordem histórica. Não pretende narrar os fatos na mesma ordem em que foi acontecendo, nem tão pouco tem uma ordem geográfica, mas principalmente uma ordem teológica.
Apesar de seguir o Evangelho de Marcos como modelo, em vários momentos afasta-se da sua ordem para manter a impressão de que a partir de 9.51, Jesus vai a caminho de Jerusalém. Ainda em dois momentos, separa-se de Marcos, para introduzir material que obteve de uma fonte também utilizada por Mateus e de suas fontes próprias. São dois parêntesis que se abrem: Menor: Lucas 6.20 – 7.50; Maior: Lucas 9.51 – 18.14. Aquilo que se encontra dentro destes dois parêntesis não está no Evangelho de Marcos.
No Livro dos Atos pode-se perceber que trabalha com material recolhido de diferentes comunidades (judaicas, helenistas, diários de viagem, etc.), mas como não há outro livro que com o qual se possa comparar, é muito difícil determinar quais são as fontes que utiliza.
Lucas insiste que o fim da viagem é Jerusalém (Lucas 9.51; 13.22; 17.11), porque são ali onde se devem cumprir as Escrituras (18.31), e onde devem permanecer os discípulos depois da Ascensão (Lucas 24.49; Atos 1.4) até que recebam a prometida vinda do Espírito Santo.
Depois da Ressurreição e Ascensão de Cristo, vem a segunda parte do livro: Os Atos dos Apóstolos. Nesta segunda parte, a ordem é inversa: os discípulos recebem o Espírito Santo em Jerusalém, e é daí que partem para a predicação do Evangelho: “Começando por Jerusalém… devia predicar-se a todas as nações” (Lucas 24.47); “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo”. (Atos 1.8)
Depois da passagem do dia de Pentecostes (Atos 2.1-41), a Igreja começa a expandir-se gradualmente. Em primeiro lugar no ambiente judaico (Atos 3 e 5), mais tarde são evangelizados os samaritanos (Atos 8.4-25), um eunuco etíope prosélito (Atos 8.26-40). Finalmente, a Palavra é anunciada a Cornélio, o primeiro pagão a receber o batismo (Atos 10). Daí em diante começa a missão junto aos pagãos, levada a cabo por São Paulo que foi eleito e enviado pelo Espiríto Santo (At 13. 2-4).
No Evangelho, o relato concentra-se em Jerusalém, no Livro dos Atos, alarga-se a partir de Jerusalém, seguindo pela Judéia, Sumária, Ásia Menor, Grécia e finalmente Roma.
Quando São Paulo chega a Roma, Lucas pode por um ponto final na sua obra. Já se cumpriram as profecias messiânicas: Jesus morreu, ressuscitou, e pregou-se o Evangelho a todas as nações, começando por Jerusalém (Lucas 24, 46-47).
5.3 Características
As características dos evangelhos vão variando de acordo com a "lente" pessoal do autor. Os assuntos que interessam aos destinatários, sua profissão pessoal, a ênfase que deseja dar à mensagem, tudo isso vai moldando o livro.
Pelo menos seis dos milagres de Jesus são exclusivos do Evangelho de Lucas. São eles: uma pesca milagrosa (5:1-6); a ressurreição do filho duma viúva, em Naim (7:11-15); a cura duma mulher encurvada (13:11-13); a cura dum homem que sofria de hidropisia (14:1-4); a purificação de dez leprosos (17:12-14) e a restauração da orelha do escravo do sumo sacerdote. — 22:50, 51.
Também exclusivas no relato de Lucas são algumas das parábolas de Jesus. Estas incluem: os dois devedores (7:41-47); o samaritano prestativo (10:30-35); a figueira estéril (13:6-9); a lauta refeição noturna (14:16-24); o filho pródigo (15:11-32); o rico e Lázaro (16:19-31); e a viúva e o juiz injusto. — 18:1-8.
Lucas apresenta mais parábolas que os outros evangelhos. Mateus inclui 15; Marcos 4 e Lucas 23, dentre as quais duas são exclusivas: O Filho Pródigo e a Dracma Perdida. O caráter dessas duas parábolas confirma o texto chave.
Lucas apresenta tom poético, exultante, festivo. Só ele registrou os cânticos, orações e declarações de Zacarias, Isabel, Maria, Simeão e dos anjos.
A universalidade do evangelho é uma tônica do livro – 2.32; 3.6; 24.47. O autor mostra a receptividade de Cristo para com todo tipo de pessoas: Samaritanos – 9.52-56; Pagãos (2.32; 3.6-8); Judeus (1.33; 2.10); Mulheres; Publicanos; Pessoas respeitáveis (7.36; 11.37; 14.1); pobres (1.53; 2.7; 6.20); ricos (19.2; 23.50). Mateus até cita alguns desses fatos, mas Lucas entra em detalhes.
O livro enfatiza a oração em parábolas e relatos: o amigo importuno (11.5-8); o juiz iníquo (18.1-8); o fariseu e o publicano (18.9-14 – narrativa exclusiva). Além disso, menciona várias orações de Jesus. Mateus se referiu a 3 orações do Mestre. Marcos citou 4, João, também 4. Lucas apresenta 11 momentos de oração de Cristo: No batismo (3.21); no deserto (5.16); antes de escolher os discípulos (6.12); na transfiguração (9.29); no Getsêmani (22.44); na cruz (23.46). etc.
Lucas honra a mulher em seu livro: Isabel e Maria (1); Marta e Maria (10); Filhas de Jerusalém (23.27 – narrativa exclusiva); As viúvas (2.37; 4.26; 7.12; 18.3; 21.2).
Observa-se nesse evangelho um equilíbrio de conteúdo: 23 parábolas, 20 milagres, e uma boa quantidade de texto biográfico.
O livro de Lucas é mais literário e mais bonito que os outros evangelhos. Comparando, podemos dizer que Mateus é didático e religioso. Marcos é teatral e prático. Lucas é biográfico e literário. O aspecto literário indica a habilidade de trabalhar com as palavras. Lendo nossas traduções portuguesas não notamos grande diferença literária entre os evangelhos. Isso ocorre porque o trabalho do tradutor produziu o efeito de um filtro. Agora, vemos mais a característica literária do tradutor e menos a do autor. Contudo, ainda é possível se apreciar a beleza do evangelho de Lucas. Observe-se, por exemplo, a introdução (Lc.1.1-4). Apresenta um cuidado e um arranjo que evidenciam o alto nível intelectual do autor.
Lucas escreve em ordem cronológica semelhante a Marcos (Lc. 1.3).
Essas jóias do Evangelho de Lucas provam que ele é singular e instrutivo. Os incidentes registrados ajudam-nos a reviver eventos tocantes na vida terrestre de Jesus. Beneficiamo-nos também das informações de como eram certos costumes. Contudo, seremos especialmente abençoados se realmente aplicarmos tais lições, como as sobre misericórdia e humildade, tão bem ensinadas neste Evangelho de Lucas, o médico amado.
6. EVANGELHO DE JOÃO
Este Evangelho tem características muito próprias, que o distinguem dos Sinóticos. Mesmo quando refere idênticos acontecimentos, João apresenta perspectivas e pormenores diferentes dos Sinóticos. Não obstante, enquadra-se, como estes, no mesmo género literário de Evangelho e conserva a mesma estrutura fundamental e o mesmo carácter de proclamação da mensagem de Jesus.
6.1 Gênero Literário
O gênero literário do evangelho de João é exatamente este _ um evangelho. A palavra em portugues é uma transliteração do grego evangellion, que literalmente significa “boas noticias”. Com referencia aos quatro evangelhos no N. T, o que temos é uma narrativa de das boas novas de Jesus Cristo. João fez uso de muitas figuras da poesia hebraica, com destaque para o paralelismo. O evangelho de João não contém parabolas, como Mateus, Marcos e Lucas, mas apresenta muitas alegorias usada por Jesus em seu ministério de ensino.
6.2 Um evangelho original
Alguns temas importantes dos Sinóticos não aparecem aqui: a infância de Jesus e as tentações, o sermão da montanha, o ensino em parábolas, as expulsões de demónios, a transfiguração, … Por outro lado, só João apresenta as alegorias do bom pastor, da porta, do grão de trigo e da videira, o discurso do pão da vida, o da ceia e a oração sacerdotal, os episódios das bodas de Caná, da ressurreição de Lázaro e do lava-pés, os diálogos com Nicodemos e com a samaritana…
Ao contrário dos Sinóticos, em que toda a vida pública de Jesus se enquadra fundamentalmente na Galileia, numa única viagem a Jerusalém e na breve presença nesta cidade pela Páscoa da Paixão e Morte, no IV Evangelho Jesus atua sobretudo na Judeia e em Jerusalém, onde se encontra pelo menos em três Páscoas diferentes (2,13; 6.4; 11.55; ver 5,1).
O vocabulário é reduzido, mas muito expressivo, de forte poder evocativo e profundo simbolismo, com muitas palavras-chave: verdade, luz, vida, amor, glória, mundo, julgamento, hora, testemunho, água, espírito, amar, conhecer, ver, ouvir, testemunhar, manifestar, dar, fazer, julgar...
Mas a grande originalidade de João são os discursos. Nos Sinóticos, estes são pequenas unidades literárias sistematizadas; aqui, longas unidades com um único tema (3.14-16; 4.26; 10.30; 14.6).
O estilo é muito característico, desenvolvendo as mesmas ideias de forma concêntrica e crescente. Assim, os temas da “Luz”: 1.4,5,9; 3.19-21; 8.12; 9; 11.9-10; 12.35-36.46; da “Vida”: 1.4; 3.15-16; 5.1-6; 10.10.17-18.28; 11.25-26; 12. 25-50; da “Hora”: 2.4; 5.25.28; 7.30; 8.20; 12.23.
Tem um caráter dramático. Depois de tantos anos, Jesus continua a ser rejeitado pelo seu próprio povo (1,11) e os judeus cristãos a serem hostilizados pelos judeus incrédulos (9.22.34; 12.42; 16.2). O homem aceita a oferta divina e tem a vida eterna, ou a rejeita e sofre a condenação definitiva (3.36).
Apesar disso, todo o Evangelho respira serenidade e vai ao ponto de transformar as dúvidas em confissões de fé (4.19-25; 6.68-69), os escárnios em aclamações (19.3.14) e a infâmia da cruz num trono de glória (3.14; 8.28; 12.32). Para isso, o evangelista serve-se dos recursos literários da ironia (3.10; 4.12; 18.28), do mal-entendido (2.19-22; 3.3; 4.10.31-34; 6.41-42.51; 7.33-36; 8.21-22,31-33,51-53,56-58), das antíteses (luz-trevas, verdade-mentira, vida-morte, salvação-condenação, celeste-terreno) e das expressões com dois sentidos: do alto ou de novo (3.3), pneuma (3.8), no sentido de vento e espírito, erguer para significar crucificar e exaltar, ver no sentido físico e espiritual, água viva, etc..
Outra característica é o simbolismo, que pertence à própria estrutura deste Evangelho, organizado para revelar tudo o que nele se relata: milagres, diálogos e discursos. Assim, os milagres são chamados “sinais”, porque revelam a identidade de Jesus, a sua glória, o seu ser divino e o seu poder salvador, como pão (6), luz (9), vida e ressurreição (11), em ordem a crer nele; outras vezes são “obras do Pai”, mas que o Filho também faz (5.19-20.36).
6.3 Composição e autor
Embora seja evidente a unidade da obra e o seu fio condutor, notam-se algumas pequenas irregularidades. A mais surpreendente é uma dupla conclusão (20.30-31; 21.24-25); o capítulo 16 parece uma repetição do 14; em 14.31 Jesus manda sair do lugar da ceia e só em 18.1 é que de fato saem... Isto leva a pensar que a obra não foi redigida de uma só vez.
Este Evangelho tem na base uma testemunha ocular «que dá testemunho destas coisas e que as escreveu» (21.24; ver 19.35). O autor esconde-se atrás de um singular epíteto: «O discípulo que Jesus amava» (13.23; 19.26; 20.2; 21.24; ver 1.35-39; 18.15). A tradição, a partir de Ireneu, é unânime em atribuir o IV Evangelho a João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu, um dos Doze Apóstolos.
A análise interna deixa ver que o autor era judeu e tinha convivido com Jesus. Não constitui problema para a autoria joanina o fato de João ser um pescador, iletrado; então, era corrente não ser o próprio autor a escrever a sua obra. Também é provável que um grupo de discípulos interviesse na redação, sob a sua orientação e autoridade; daí a primeira pessoa do plural «nós», que por vezes aparece (3.11; 21.,24).
Foi este o último Evangelho a ser publicado, entre o ano 60 e 90 d.C. Não pode ser uma obra tardia do século II, como pretendeu a crítica liberal do século passado; a sua utilização por Inácio de Antioquia, martirizado em 107, e a publicação em 1935 do papiro de Rylands, datado de cerca do ano 120, desautorizou tal pretensão.
Tem-se discutido muito acerca do meio cultural de que depende; mas devemos ter em conta a sua grande originalidade e a afinidade com o pensamento paulino das Cartas do cativeiro. Os discursos de auto-revelação, que não aparecem em toda a Bíblia, não procedem dos escritos gnósticos e mandeus (parece serem estes que imitam João); têm raízes no Antigo Testamento, sobretudo nos livros sapienciais, onde a Sabedoria personificada se auto-revela falando na primeira pessoa (Pr 8.12-31; Sb 6.12-21).
6.4 Valor histórico
Chamar “sinais” aos milagres é indicar que se trata de fatos significativos e não de meros símbolos. Com efeito, o próprio Jesus se proclama testemunha da verdade (18.37) e o texto apoia-se numa testemunha ocular. É um testemunho que não se confina a meros acontecimentos históricos, pois tem como objeto a fé na pessoa e na obra salvadora de Jesus; mas brota de acontecimentos vistos por essa testemunha (19.35; 20.8; 21. 24).
Ao incluir alguns termos aramaicos e uma sintaxe semita, mostra que é um escrito ligado à primitiva tradição oral palestinense. Por outro lado, os muitos pormenores relativos às instituições judaicas, à cronologia e geografia, provam o rigor da informação, às vezes confirmada por descobertas arqueológicas. Sem as informações de João, não se poderiam entender corretamente os dados dos Sinóticos.
Se fosse apenas uma obra teológica, o autor não teria o cuidado constante de ligar o relato às condições reais da vida de Jesus. Uma contraprova do seu valor histórico: quando não possui dados certos, não inventa. Assim, no período anterior à Encarnação, fala da preexistência do Verbo, mas nada diz da sua vida no seio do Pai, como seria de esperar.
6.5 Divisão e Conteúdo
A concepção desta obra obedece a uma linha de pensamento teológico coerente e unificadora. Face aos vários esquemas propostos, limitamo-nos a assinalar as unidades do conjunto para deixar ver um pouco da sua riqueza e profundidade:
Prólogo (1.1-18): uma solene abertura, que anuncia as ideias mestras.
I. Manifestação de Jesus ao mundo (1.19-12.50), como Messias, Filho de Deus, através de sinais, discursos e encontros. Distinguem-se aqui cinco grandes secções:
1. Primeiro ciclo da manifestação de Jesus: 1.19, 4.54. Semana inaugural.
2. Jesus revela a sua divindade: Ele é «o Filho», igual ao Pai: 5.1-47
3. Jesus é «o Pão da Vida»: 6.1-71.
4. Jesus é «a luz do mundo»: grandes declarações messiânicas por ocasião das festas das Tendas e da Dedicação: 7.1, 10.42.
5. Jesus é «a vida» do mundo: 11,1-12,50.
II. Revelação de Jesus aos seus (13.1-21,25): manifestação a todos como Messias e Filho de Deus através do “Grande Sinal”, por ocasião da sua Páscoa definitiva.
6. A Última Ceia: 13.1-17,26.
7. Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus: 18.1-20,29.
Epílogo (20.30, 21.25): dupla conclusão. Aparição na Galileia.
6.6 Propósito Teologico
Este Evangelho propõe-se confirmar na fé em Jesus, como Messias e Filho de Deus (20. 30-31). Destina-se aos cristãos, na sua maioria vindos do paganismo (pois explica as palavras e costumes hebraicos), mas também em parte vindos do judaísmo, com dificuldades acerca da condição divina de Jesus e com apego exagerado às instituições religiosas judaicas que se apresentam como superadas (1.26-27; 2.19-22; 7.37-39; 19.36). Sem polemizar contra os gnósticos docetas, que negavam ter Jesus vindo em carne mortal (I Jo 4.2-3; 5.6-7), João não deixa de sublinhar o realismo da humanidade de Jesus (1.14; 6.53-54; 19.34). Por outro lado, é um premente apelo à unidade (10.16; 11.52; 17.21-24; 19.23) e ao amor fraterno entre todos os fiéis (13.13.15.31-35; 15.12-13).
João pretende dar-nos a chave da compreensão do mistério da pessoa e da obra salvadora de Jesus, sobretudo através do recurso constante às Escrituras: «Investigai as Escrituras (...): são elas que dão testemunho a meu favor» (5.39). Embora seja o Evangelho com menos citações explícitas do Antigo Testamento, é aquele que o tem mais presente, procurando, das mais diversas maneiras, extrair-lhe toda a riqueza e profundidade de sentido em favor de Jesus como Messias e Filho de Deus, que cumpre tudo o que acerca dele estava anunciado por palavras e figuras (19.28-30).
Além destes temas fundamentais da fé e do amor, João contém a revelação mais completa dos mistérios da Trindade e da Encarnação do Verbo, o Filho no seio do Pai, o Filho Unigénito, que nos torna filhos de Deus; a doutrina sobre a Igreja (10.1-18; 15.1-17; 21.15-17) e os Sacramentos (3.1-8; 6.51-59; 20.22-23).
O Evangelho de João é singular em sua maneira de contar e explicar a vida de Jesus. Por exemplo, observa-se a omissão dos relatos dos sinóticos sobre a vida de Jesus: genealogia, nascimento, adolescencia, tentação transfiguração, escolhas dos discipulos, ascesão e Grande Comissão. Encontramos apenas em João Cristo chamado Verbo, criador, cordeiro de Deus e o grande ËU SOU”. Os contrastes entre João e os sinóticos foram avaliados de muitos angulos diferentes por uma ifinidade de interpretes. Talvez a explanação mais sucinta das distinções e dizer que os sinóticos apresentam a teologia de uma perspectiva histórica, enquanto João apresenta a história de uma perspectiva teologica.
O Propósito do evangelho de João não é objeto de especulação. Ele contem o proposito mais claramente expresso em toda a Biblia: Estes [sinais] foram registrados para que creias que Jesus é o Cristo, o filho de deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31). A idéia chave aqui é “crer”, encontrada em João cerca de cem vezes. Isto dá ao evangelho dois propósitos principais: O primeiro é que João procurou colocar as pessoas frente a frente com a vida e com a identidade de Cristo, para que submetessem sua vida à soberania de Jesus. Por isso o principal proposito do evangelho de João é o evangelistico. Segundo lugar, pode-se traduzir “creias” na afirmação de João por “continueis crendo”, o que revela o proposito de fortalecer a família da fé que ja esta andando com Cristo.
O tema Teologico central é a natureza de Jesus Cristo. Esse evangelho nos ensina que o Verbo era Deus, e esse Verbo se tornou carne (1. 1-14). Muitos outros temas teologicos aparecem nesse evangelho. O evangelho de João contém mais ensinamentos sobre o Espiríto que qualquer outro evangelho. A unidade e o testemunho da igreja também são temas que recebem muita atenção.
6.7 O valor Ético e Teologico
Neste evangelho aprendemos muito sobre Deus como Pai. Os crentes da epoca devem a João o habito de se referirem a Deus simplismente como ö Pai”. O Pai esta ativo (5.17), abençoando os que ele criou. Ele é amor (3.16; veja I Jo 4.8-10). Conhecemos o amor porque o vemos na cruz; é doação sacrificial, não para pessoas de mérito, mas para pecadores que nada merecem. Ele é um cuja vontade Deus grande cuja vontade de nos dar a salvação é cumprida. (6.44).
O evangelho Todo enfoca Jesus Cristo. Esta claro que Deus se revelou em Cristo(1.1-18). Deus esta ativo em Cristo, o salvador do mundo, efetuando a salvação que planejou(4.42)
O Evagelho de João fala mais que os outros evangelhos sobre o Espiríto Santo. O Espiríto estava ativo desde o começo do ministerio de Jesus (7.37-39). O Espiríto traz vida (3.1-8), vida da mais alta qualidade (10.10), e conduz os crentes no caminho da verdade (16.13). O Espiríto, assim, universaliza o ministério de Jesus para os cristãos de todas as épocas.
Em resposta a ação de Deus em sua vida, os cristãos devem ser caracterizados pelo amor (13.34-35). Eles devem tudo o que têm ao amor de Deus, e nada é mais apropriado do que responder a esse amor amando a Deus e as outras pessoas.
7. CONSIDERASÕES FINAIS
Atualmente a teoria das fontes e uma teoria defendida pela maioria dos exegetas, para explicar a formação dos Evangelhos sinóticos. Esta teoria afirma o seguinte: Marcos é o mais antigo dos nossos Evangelhos, seguido por Mateus e Lucas, independentemente um do outro, Acredita-se que existiu outro documento especial onde havia Palavras e discursos de Jesus. Esse documento hipotético, que deve ter sido escrito em grego, é chamada “Q”, do alemão Quelle (fonte), teria sido uma fonte usada para compor, juntamente com o Evangelho de Marcos, os Evangelhos de Mateus e Lucas. Quanto ao Engelho de São João foi escrito, em grego, por volta do ano 60 e 90 d.C.
O Evangelho foi anunciado oralmente e depois escrito. Há um intervalo de 30 a 70 anos entre Jesus e o texto definitivo dos Evangelhos. Na verdade Jesus pregou sem deixar nada por escrito, nem tampouco mandou os apóstolos escreverem. A Igreja admite três etapas nesse período de tempo:
1. De Jesus aos Apóstolos - Jesus pregava a Boa Nova usando a linguagem dos rabinos (Parábolas), Após a ressurreição, Cristo investiu os apóstolos da missão de pregar o Evangelho por todo o mundo, o que se deu após o dia de Pentecostes.
2. Dos Apóstolos às primeiras Comunidades cristãs - Jesus morreu e ressuscitou não abandonou os seus discípulos. Enviou o Espírito Santo para orientar os Apóstolos na fiel pregação do Evangelho. Ele mesmo disse “não vos preocupeis com o que haveis de dizer...” A mensagem de Jesus foi levada de Jerusalém para Samaria, Galiléia, Síria, Grécia, Roma ... Até os confins da terra. Depois da morte de Jesus e reunindo comunidades para viver um estilo de vida de acordo com a Palavra e a ação de Jesus.
Essa pregação inicial era chamada de primeiro anúncio, ou Kerigma, era uma pregação curta, que gerava frutos de conversão e a adesão a Jesus, cujo tema central era a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte obtida na cruz - Páscoa -, a ressurreição etc...
Depois desse anúncio começava o ensino, isto é, de educação para uma vida segundo a fé. É esta etapa de ensino nas comunidades iniciarem as tradições orais e também os primeiros escritos que formaram mais tarde os Evangelhos, pois a medida que iam pregando o Evangelho, os apóstolos sentiram necessidade de escreverem o que pregavam para facilitar a aprendizagem texto de parábolas, milagre, profecias, narrativas da paixão e ressurreição, para poder transmitir as verdades da fé.
3 Das primeiras Comunidades cristãs aos Evangelhos - Assim os evangelhos são um espelho de ensino que era feita nas primeiras comunidades cristãs. Nesse período as comunidades cristãs passaram a ter um conhecimento mais profundo da Palavra
Das diversas compilações feitas nas Comunidades, quatro foram reconhecidas pela Igreja como canônicas, isto é autêntica Palavra de Deus. Dai surgiu os quatro Evangelhos segundo Mateus, Marco, Lucas e João. Os quatro Evangelhos são semelhantes entre si porque tratam do mesmo Jesus. Apresentam variações diferentes porque nasceram em comunidades diferentes. Os Evangelhos aparecem entre 30 e 70 anos depois da morte de Jesus. A intenção não era fazer uma biografia, uma história de Jesus. Queriam, sim, converter, esclarecer e manter vivo nas comunidades o compromisso com Jesus, recordando suas palavras, sua morte e ressurreição.
Logo, os evangelhos foram inspirados e teve sua origem, autoridade e genuinidade em Cristo, a Palavra encarnada. “Fiel é a Palavra e digna de toda aceitação” (I Tm 1.15).
Autor: Claudia Oliveira
REFERENCIAS
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